terça-feira, 13 de outubro de 2009

Estética do desalento - Fernando Pessoa

Já que não podemos extrair beleza da vida,
busquemos ao menos extrair beleza de não poder extrair beleza da vida.

Façamos da nossa falência uma vitória, uma coisa positiva e erquida,
com colunas, majestade e aquiescência espiritual.

Se a vida [não] nos deu mais do que uma cela de reclusão, façamos por ornamentá-la, ainda que mais não seja, com as sombras de nossos sonhos, desenhos a cores mistas esculpindo o nosso esquecimento sobre a parada exterioridade dos muros.

Como todo sonhador, senti sempre que o meu míster era criar. Como nunca soube fazer um esforço ou ativar uma intenção, criar coincidiu-me sempre com sonhar, querer ou desejar, e fazer gestos com sonhar os gestos que desejaria poder fazer.

O livro do desassossego - Fernando Pessoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário