segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CANÇÃO DA TARDE NO CAMPO

Cecília Meireles

Caminho do campo verde,
estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

(Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.)

Meus pés vão pisando a terra
que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

(Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha.)

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua:
vou chegando, vais fugindo
minha alma é a sombra da tua.

(Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.)

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto.
Subo monte, desço monte,
meu peito é puro deserto.

(Eu ando sozinha,
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.)

Cecília Meireles

domingo, 2 de setembro de 2012

“Tudo está em deixar amadurecer e então dar a luz.Deixar cada impressão, cada semente de um sentimento germinar por completo dentro de si.
Na escuridão do indizível, do inconsciente, em um ponto inalcançável do próprio entendimento e esperar com profunda humildade e paciência, a hora do nascimento de uma nova clareza.
Isso se chama viver artisticamente.
Tanto na compreensão, quanto na criação.
Não há nenhuma medida de tempo para quem faz arte. Um ano de nada vale e mesmo 10 anos não são nada. Ser artista significa não calcular, nem contar. Significa amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e permanece confiante durante as tempestades da primavera, sem o temor de que o verão possa não vir.
O verão vem, o verão vem!…
Mas só chega para os pacientes.
Para os que estão ali como se a eternidade se encontrasse diante deles com toda amplidão, com toda serenidade, sem preocupação alguma.
Aprendo isso diariamente. Aprendo em meio às dores as quais sou grato.
A paciência é tudo!”

Rainer Maria Rilke